Dayse Cruz
As representações simbólicas estão fundamentalmente relacionadas às diferentes formas de expressão utilizadas ao longo da História da humanidade. O desenho, na perspectiva da Pedagogia Waldorf, é compreendido como expressão do desenvolvimento infantil. A criança pequena que parte das garatujas para uma estrutura mais elaborada de representação, está demonstrando a apropriação, sua leitura do mundo.
Segundo Steiner (1997), a criança nos primeiros sete anos seria, em si, um órgão sensório. Assim, as impressões do ambiente e de suas experiências são interiorizadas a partir de todo seu corpo, utilizando seus múltiplos sentidos. Desse modo, cada experiência vivida no primeiro setênio gerará impactos no desenvolvimento do indivíduo ao longo de toda sua vida. Isto porque, neste período, o corpo ainda está em formação, passando por diversos processos vitais. Esse processo vai expressar-se através de seu movimento, inclusive, naquele que aparece em seu desenho.
Nos primeiros anos, é comum a execução de movimentos circulares e de pêndulo no papel. Aos poucos, esses movimentos que se constituíam de forma mais ampla, chegando a ultrapassar os limites da folha, passam a se atenuar e a criança começa a desenhar com mais intencionalidade. Ela passa a representar as imagens que percebe e vivencia no mundo.
Aí reside a importância de propiciarmos o contato da criança com diferentes imagens: é através delas que a criança compreende o mundo no qual acabara de chegar. As imagens se comunicam profundamente com nossa alma e, assim, atuam no âmbito mais sublime do ser. Uma rica fonte de arquétipos pode ser encontrada nos contos de fadas. Essas histórias nos trazem imagens, verdades universais sobre a humanidade.
Quanto mais a criança puder acessá-las, mais recursos ela terá para desenvolver-se, pois as imagens arquetípicas povoam o imaginário e nutrem a fantasia infantil. Esse alimento anímico é fundamental para o desenvolvimento comunicacional e a expressão da individualidade. A interação humana, assim, constitui-se fator imprescindível à estruturação do pensamento e da linguagem (VYGOTSKY, 1987).
Desse modo, podemos refletir sobre que tipo de linguagem e referências gostaríamos de oferecer às nossas crianças. Em que tipo de imagens as interações estão pautadas: na cooperação e empatia ou na competitividade e intolerância? Assim, percebemos a importância das imagens para o desenvolvimento infantil; tanto aquelas que a criança capta do mundo exterior, quanto aquelas que produz quando desenha, visto que ambas estão intrinsecamente relacionadas.
Dayse Cruz é pedagoga, mestre em Linguagem e Educação pela USP, professora no Centro Educacional Alecrim Dourado, docente da área de Educação Infantil na Faculdade Rudolf Steiner, estudiosa apaixonada pela Educação e pela Antroposofia.
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