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A visão na cegueira

Atualizado: 15 de fev. de 2021

Por Stella Ferreira


Hoje revisitando textos e materiais da Pós Graduação em Artes-Manuais para Educação, encontrei este inspirado no Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago.


Provocadas a escrever baseadas em duas perguntas: o que vejo quando não vejo? e o que não vejo quando vejo?, vivenciamos o ver e não ver sob as perspectivas do tato, sobrevivência, percepção de si mesma e do entorno, manualidades.


Os registros da escrita nos permitem perceber as mudanças ao longo do tempo, e como é bom quando vemos que avançamos.


Deixo minha visão da cegueira de 2018 com vocês.





São Paulo, 14 de junho de 2018.


O que eu vejo quando não vejo?


Vejo os sentimentos.

Sinto no coração.

De olhos fechados, o mundo se amplia nos sentidos internos e externos.

Nossos sentidos externos se aguçam; é uma questão de sobrevivência enxergar por outros olhos.

Enxergo aquilo que passa pelos olhos diariamente, e que cegos que somos, não vejo.

Na experiência de fiar com os olhos fechados, com os pés descalços e andando no jardim e dentro de casa, pude perceber o quanto não vejo da minha própria casa.

A diferença de calor e textura de cada piso, suas irregularidades. Tateei com os pés pra saber e entender onde estava pisando, buscando o caminho para onde eu mesma me levava.

Percebi a energia que emana dos móveis que varia de acordo com o material, tamanho e forma. Isso faz com que sua presença seja detectada.

Na cegueira, precisamos confiar. Simplesmente confiar e acreditar em nós mesmos, na nossa própria intuição.

Os valores mudam. O que vale a pena de verdade?

Perguntas com respostas dentro de nós mesmos; afinal, somos uma parte do todo.

A cegueira nos transporta para o mundo interior, o mundo das lembranças, vivências, sonhos, expectativas e frustrações, onde tudo é mais intenso e verdadeiro.

Cegar é uma aventura!


O que não vejo quando vejo?


A visão nos engana. E muito.

Quando vemos, vemos o superficial, o rápido, o necessário.

Não nos atemos sobre os detalhes, as características do que ou de quem.

Passa. Somente quando precisamos de fato, nos esforçamos para enxergar.

Na experiência da fiação com os olhos abertos, tudo o que senti de olhos fechados não fez sentido, porque automaticamente me liguei na espessura do fio, se estava uniforme ou não, perfeito ou não. A textura dos materiais, o calor, a ponta dos dedos......foi percebido rapidamente. O suficiente para descrever superficialmente o que estava acontecendo.

Me considero uma pessoa que ainda olha para o céu e consegue admirar todo dia, faça chuva ou faça sol, observo as plantas, percebo o vento. Mesmo assim, estou muito distante do que seria sem enxergar.

Chego à conclusão que precisamos nos tornar mais sensíveis à visão, dar mais importância ao que vemos. Tanta coisa linda pra ser vista.

É preciso tirar as vendas dos olhos abertos.



Stella Ferreira


Arte manualista, mãe Waldorf, empreendedora, criadora e idealizadora da Fios de Estrela, arteira dos fios desde a infância.




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