Por Neli Ortega
O dia amanheceu colorido, como em muitos outros desapercebidos.
Elas acordaram vivazes, com uma disponibilidade inquestionável.
Seguiram sua rotina. Lavaram o rosto, escovaram os dentes, pentearam os cabelos, passaram o protetor solar, alisaram os tecidos delicados no corpo. O café da manhã, prepararam com presteza e dedicação, pois adoravam servir.
Contudo, naquele dia, uma delas acordou com uma dor em sua porção esquerda. Um movimento, uma fisgada...ressentiu-se. A outra ajudava como podia...
Ela ia comemorar 36 anos em poucos dias. Avaliava, pensativa, tudo o que já tinha conquistado. Sempre fora sonhadora e tinha a força interna para buscar tudo o que queria. Pensava-se de si própria que era agradecida. Sim, ela sentia a gratidão por tudo, ou quase tudo. Um chá, um queijo cortado, uma fisgada. Aquela fisgada na mão esquerda...
Como pudera passar tanto tempo sem notar fato tão nitidamente revelado?
Observou-as atentamente. Já não eram mais tão jovens, havia sinais de um tempo vivido. E foi então que sentiu a mais profunda gratidão jamais imaginada. Envolveu-as com amor. Levou-as de encontro ao peito. Agradeceu mais uma vez por sua existência.
E a conexão aconteceu.
Suas mãos, seus tesouros incalculados...
Suas flores incansáveis do fazer, do oferecer, instrumentos de Deus que registram nossa caminhada pela Terra.
Gratidão!
Neli Ortega, mãe de três filhos.
Física, construiu uma carreira acadêmica na Universidade de São Paulo.
Tornou-se estudiosa de antroposofia e pedagogia Waldorf.
O destino levou a professora de Trabalhos Manuais na Escola Waldorf Guayi. Professora de classe, entregou seu 8o ano ao fim de 2020, em meio a uma pandemia. Hoje, instigada pela vida, segue ensinando e aprendendo como pode.
Renascendo também como professora no Curso de Formação para Professores Waldorf Viver. Segue na vida curiosa.
Contato nelirsortega@gmail.com
Que lindo texto, coisas de quem faz com as mãos tudo que sonha, me lembro minha mãe e tias...